ATACAS trial: qual era mesmo a minha pergunta?



O estudo ATACAS, publicado em 25 de fevereiro de 2016 traz uma tentativa de responder uma pergunta muito simples porém importante no dia-a-dia de parte significativa dos paciente com doença artéria coronariana: é seguro manter a aspirina em paciente que serão submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica?
Uma crítica pontuada foi uma emenda adicionada ao protocolo da pesquisa, a qual diminuiu em mais de 50% o N de pacientes necessários. A emenda foi justificada pela grande taxa e eventos primários e por grande parte dos paciente com programação de revascularização já receberem a orientação de não suspender o uso de AAS, o que reduziu drasticamente a captação de pacientes. Concluímos que isso não configurou um truncamento do trabalho pois o cálculo foi feito antes da interrupção e esta não foi motiva por um achado benéfico ou maléfico.
Há que se pontuar, porém, que o grande número de desfechos primários se deveu à grande taxa de infartos pós-cirurgia, definidos como aumento de marcadores de necrose miocárdica independente de alterações eletrocardiográficas ou sintomas. Muitas alterações secundárias ao próprio estresse cirúrgico foram erroneamente rotuladas de infarto, o que inflou a taxa de eventos primários.
Finalmente, mesmo que esse delito não tivesse acontecido, o protocolo da pesquisa ainda assim não responderia a pergunta que imaginávamos ser seu objeto de estudo: manter aspirina é seguro/eficaz? Para responder tal pergunta, a randomização deveria ocorrer para manter a aspirina diariamente (e não suspender para reintroduzir no pré-operatório) ou suspender 5-7 dias antes da cirurgia, como culturalmente preconizado.
Em pesquisa breve da literatura, encontra-se que níveis eficazes de antiagregação plaquetária são alcançados com 75-325 mg de AAS após 20- 30 minutos, com pico de ação em 2 horas. Por essa informação, os paciente randomizados estariam sob efeito adequado de AAS durante a cirurgia. Mas a pergunta não foi "iniciar AAS no pré-operatório é eficaz/seguro?" Não foi testada a manutenção do AAS e sim uma reintrodução mais precoce.

Essa pergunta segue sem uma resposta definitiva, muito embora a manutenção já seja uma realidade bem estabelecida.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ritmo de Marca-passo - Ricardo Sobral

ESTUDO ISIS - 2