EVOLUCUMAB – até quanto vale a pena reduzir LDL-c?





Há muito se sabe que pacientes com doença aterosclerótica (DAC) se beneficiam da redução de colesterol LDL (LDL-c) tanto no contexto primário quanto secundário. Diretrizes sobre dislipidemia, como a brasileira, recomendam um nível menor que 70 para profilaxia secundária em pacientes com DAC. Opções terapêuticas não faltam. Apesar de estatina ainda ser a primeira opção, novas drogas surgem com propostas de redução adicional a terapia máxima de estatina.

Nesse contexto, novos estudos como o IMPROVE-IT (IMProved Reduction of Outcomes: Vytorin Efficacy International Trial) mostrou beneficio clínico (desfechos duros) com redução adicional do LDL-c para níveis ainda mais baixos como 54. Diante deste fato, fica uma dúvida: até que nível de LDL-c haverá benefício clínico da redução?

Para responder esta pergunda foi realizado o estudo FOURIER com a nova droga Evolucumab (inibidor PCSK9) que tinha por objetivo testar eficácia clínica em pacientes já em uso de estatina. Trata-se de estudo duplo cego, randomizado, controlado e multicêntrico cujo desfecho primário foi o tradicional composto de morte cardiovascular, infarto, AVC, angina instável e revasculariazação.

O resultado foi a redução do LDL-c já nas primeiras semanas no grupo droga de 92 para 30. Isso mesmo, 30. Tal redução se mostrou sustentável ao longo do tempo de follow up. Em relação ao desfecho primário, houve redução de eventos com Hazar ratio 0.85. Em relação ao desfecho secundário, composto apenas de morte cardiovascular, infarto e AVC, portanto um desfecho mais hard, o hazard ratio foi de 0.80.

Trazendo para prática, podemos perceber que a análise do desfecho sencundário seria mais interessante por trazer desfechos de maior impacto clínico. Dessa forma, em termos de veracidade, o estudo foi positivo: evolucumab reduz eventos. Na segunda análise que fizemos, em termos de magnitude de benefício, começam os problemas. O NNT para o desfecho secundário foi de 74, portanto de baixo impacto clínico. Na terceira análise, de custo efetividade, também identificamos um grande problema. O preço médio mensal para uso da droga é de 1200 dólares.

Então, por reduzir eventos de forma pequena e ser muito caro não há espaço para seu uso e estatina deve-se manter como primeira opção? Sim e não.

Numa análise mais aprofundada foi feita divisão em quartis dos pacientes de acordo com nível de LDL-c pré tratamento (<80, 80-<92, 92-109 e >109). O que foi evidenciado foi redução consistente e muito similar do LDL-c nos quarto grupos. O que podemos concluir que, independente do nível de LDL-c pré tratamento, Evolucumab reduz LDL-c.

Ou seja. Sim, estatina ainda deve ser a primeira opção de tratamento e não há necessidade de terapia adicional, uma vez comprovada a redução de colesterol para níveis usualmente considerados como alvo (<70). E não, Evolucumab pode ser opção para pacientes com contraindicação ou intolerância a estatina ou para aqueles que a despeito de terapia otimizada com estatina, mantém níveis elevados de LDL-c.

Por Michael Sabino - MR1 cardiologia 

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