WOEST
Use of Clopidogrel With or without Aspirin in Patients Taking Oral Anticoagulant Therapy and Urdergoing Percutaneous Coronary Intervention: An open label, Randomised, Controlled Trial.
É
conhecido o aumento do risco de eventos hemorrágicos em pacientes que utilizam
dupla antiagregação plaquetária, o que dizer então quando nos confrontamos com
o cenário clínico que nos conduz a utilização de terapia antitrombótica tripla
(AAS, Clopidogrel e Anticoagulante)? Imaginem um paciente em uso de cumarínico
devido à eventos tromboembólicos prévios e que apresentam insuficiência
coronariana aguda com indicação de angioplastia com stent, imaginem ainda que
esse stent é farmacológico e que sua antiagregação deverá ocorrer por pelo
menos 1 ano. Realidade, extremamente comum, com evidente gap científico que não nos permitem conduzir estes pacientes com
estratégias mais seguras do ponto de vista de resultado terapêutico (leia-se
trombose de stent) e eventos adversos (leia-se eventos hemorrágicos).
O
estudo WOEST surge na tentativa de preencher esta lacuna, tentando responder se
uma estratégia antitrombótica dupla
(Clopidogrel + Warfarina) poderia reduzir sangramentos e ainda manter taxas
semelhantes de trombose de stent quanto a estratégia vigente de terapia
antitrombótica tripla (Clopidogrel + AAS + Warfarina). Entenderemos mais tarde
por que ele apenas tentou. Trata-se de um ensaio clínico aberto com poder de
80% em detectar diferença de 7% na incidência de eventos hemorrágicos entre as
terapias, que reuniu de 2008 à 2011, 279 pacientes para terapia dupla e 284
pacientes para terapia tripla, seguidos por 1 ano com média de idade de 70 anos
. Neste estudo foi considerado como desfecho primário sangramentos de qualquer
natureza, sejam eles maiores ou menores classificados através dos critérios
TIMI, GUSTO e BARC. Desfechos secundários analisados foram o composto de morte,
IAM, AVC, revascularização, e trombose de stent, bem como análise separada dos
seus componentes e do desfecho primário. Aproximadamente 88% dos pacientes com FA
apresentavam CHADS2 > 1, sítio de punção do CATE foi mais freqüente em
artéria femoral (73%) à despeito do estimulo para uso de artéria radial,
aproximadamente 70% dos pacientes utilizavam anticoagulação devido à FA, 10%
devido a valvopatia; e utilização de stent farmacológico foi a opção mais
utilizada (65%). Como esperado, ocorreu mais eventos hemorrágicos no grupo de
terapia antitrombótica tripla com significância para os sangramentos mínimos e
menores e com tendência a significância nos sangramentos maiores, apresentando redução
do risco relativo de 64%; com local de sangramento mais comum o trato gastrointestinal, sítio de punção e hematoma. A
incidência de trombose de stent foi pequena para ambos os grupos não havendo
diferença estatística.
Entenderemos
agora por que o trabalho apenas tentou, mas não conseguiu. Porém, antes das
críticas, vale à pena elencar os méritos. Esse foi o primeiro ensaio clínico
que teve a coragem de bancar a retirada da aspirina do tratamento
antitrombótico padrão na angioplastia e abrir caminho para estudos maiores que
possam, agora, demonstrar a efetividade em relação ao desfecho trombose de
stent; além disso, aproximou a incidência de eventos hemorrágicos da nossa
realidade evidenciando todos os sangramentos (menores, intermediários e
maiores), bem como os sítios mais frequentes, distante dos ensaios clínicos
extremamente controlados que levam em consideração apenas os sangramentos
moderados e maiores. No entanto, a informação que estratégia antitrombótica
tripla causa mais sangramentos do que a estratégia dupla nos confirma apenas o
que já é esperado; o que não sabemos e o que o estudo não conseguiu demonstrar
por falta de poder estatístico, é saber se existe aumento nas taxas de trombose
de stent em pacientes que utilizam terapia antitrombótica dupla e,
infelizmente, essa resposta não nos foi dada. Isto decorre por que a incidência
de trombose (evento) é rara, com trombose tardia ocorrendo em até 0,8% dos
pacientes em uso de stent farmacológico (Arq
Bras Cardiol 2010) e
seria necessário um tamanho amostral muito superior, aos 573 pacientes
randomizados, para obter um poder estatístico maior que 80% em demonstrar uma
diferença entre os grupos. Por fim, o estudo peca em ser desenhado de forma
aberta, quando a simples comparação da aspirina a um placebo o tornaria cego e minimizaria
os vieses de aferição, além disso a ausência de controle adequado ou estrito do
RNI colocam em cheque os resultados encontrados, embora afastando-se mais de
estudos extremamente controlados, com dosagem e rigoroso ajuste de RNI,
aproxima-se mais da nossa prática podendo ser considerado um estudo pragmático.
Portanto, esse trabalho apenas ascende a luz para o desenrolar de outros que
possam nos responder essa pergunta e trazer maior segurança para aplicar essa
estratégia antitrombótica dupla na nossa pratica clínica.
Boa matéria, gostei bastante.
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