Atrial Fibrillation in
Patients with Cryptogenic Stroke
(N Engl J Med 370;26 June 26, 2014)
Recentemente foi
publicado no NEJM mais um estudo sobre acidente vascular cerebral (AVC)
criptogênico e fibrilação atrial (FA), um tema já conhecido e amplamente
discutido. No entanto, o estudo trouxe um questionamento interessante: será que
o monitoramento por 30 dias com ECG contínuo, quando comparado a medida de
Holter 24h, seria capaz de identificar uma maior proporção de casos de
fibrilação atrial e indicar tratamento com anticoagulantes?
Para testar
sua hipótese, no período de junho de 2009 a março de 2012, os autores
realizaram um estudo multicêntrico, randomizado, aberto, no qual selecionaram
pacientes com mais de 55 anos que não tivessem FA conhecida e que tivessem uma
história de AVCi ou acidente isquêmico transitório (AIT) de causa indeterminada
nos últimos seis meses. Os pacientes foram randomizados pra usar o Holter de
24h (285 compondo o grupo controle) ou um dispositivo gravador de eventos,
capaz de identificar irregularidades do R-R, detectar FA e gravar por até 2,5
minutos cada episódio, os pacientes usariam o dispositivo por 30 dias ou até
que surgisse um episódio de FA (286 pacientes no grupo intervenção). Não houve
diferença entre as características dos dois grupos. A idade média dos pacientes
foi de 72 anos e a mediana do CHADS foi de 3 (2-6).O desfecho primário foi a detecção de um ou mais episódios de FA ou Flutter com duração maior ou igual a 30 segundos no período de 90 dias (detectado por monitor ou clinicamente). Os desfechos secundários incluíam o uso de anticoagulante oral em 90 dias, FA maior ou igual a 30 segundos identificada ao monitor e FA de qualquer duração ao monitor contínuo.
O estudo identificou
45 pacientes com episódios de FA com duração de 30 segundos ou mais no grupo
intervenção, com um total de 218 episódios de FA, variando de 1 a 29 episódios
por paciente. O grupo controle, com uso de Holter 24h, identificou apenas 9
pacientes com FA maior ou igual a 30 segundos (p<0,001). O estudo encontrou
que a cada 8 pacientes monitorados por 30 dias, um apresenta FA, considerou
esse valor como número necessário para screen
[8 (5.7-12.5)].
Os autores
então demonstraram que uma busca mais intensiva da FA em pacientes que já
sofreram um AVCi, é benéfica, pois é capaz de identificar um maior numero de
pacientes com arritmia e indicar a anticoagulação, diminuindo assim a proporção
de recorrência de novo evento isquêmico.
Com esse
resultado foi possível perceber que uma proporção grande de pacientes com FA,
saem de um evento isquêmico agudo sem o adequado diagnóstico e, portanto sem o
devido tratamento.
O estudo foi
bem desenhado, randomizar dois grupos, um para medida de ECG de 30 dias e outro
para o Holter de 24h, deu mais credibilidade ao estudo. Demonstra que a atual
forma de busca da FA, através de uma medida pontual de 24h, pode ser
insuficiente para sua identificação. Observou-se uma detecção cinco vezes maior
da FA na avaliação de 30 dias.Após uma atenta leitura e identificando resultados positivos surge o questionamento de como aplicar na prática os dados encontrados. Não há disponível no mercado um aparelho para medida contínua de ECG de 30 dias, no entanto, os números são reais e o estudo identifica que a FA em pacientes que sofreram um AVCi é subdiagnosticada e subtratada. Será que um protocolo de medidas frequentes de Holter de 24h poderia contribuir para este diagnóstico? Medidas a cada consulta de revisão, por exemplo? A literatura demonstra que é alta a taxa de recorrência de AVC e de morte neste segundo evento, seguramente os paciente com FA paroxística e que já tiveram um evento isquêmico se beneficiariam da anticoagulação precoce.
Portanto, este
estudo é capaz de provar que uma busca mais rigorosa por um ritmo de FA em
pacientes com AVCi prévio é capaz de identificar uma maior proporção da
arritmia. A partir deste diagnostico o médico pode encontrar substrato para
indicar a anticoagulação e assim prevenir o segundo evento isquêmico. No
momento atual, o Holter 24h, realizado de modo regular, pode ser o exame capaz
aumentar a chance de um diagnóstico e tratamento precoce.
Estudo muitíssimo interessante!
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