Is Epinephrine During Cardiac Arrest Associated With Worse Outcomes in Resuscitated Patients? (J Am Coll Cardiol 2014;64:2360–7)
O presente estudo unicêntrico e
observacional mostrou que Epinefrina quando administrada com PCR pré-hospitalar
foi associada com menor probabilidade de sobrevida sem disfunção neurológica.
Estudos prévios haviam mostrado que a administração da epinefrina aumentava a
probabilidade do retorno à circulação espontânea (RCE), entretanto esse
benefício não era traduzido em mortalidade ou prognóstico neurológico em longo
prazo. Os estudiosos apontam como possível hipótese por esses achados os
efeitos deletérios da medicação tais como disfunção miocárdica, aumento do
consumo de oxigênio e anormalidades circulatórias.
O estudo avaliou 1.556 pacientes
admitidos em um hospital terciário de Paris. Entre aqueles que inicialmente
tiveram RCE, a sobrevida na alta hospitalar com categoria de performance
cerebral 1 ou 2 ocorreu em 17% nos pacientes que receberam epinefrina contra
60% naqueles que não a receberam (p<0,001). Em uma sub-análise pareada por
escore de propensão, a sobrevida com um bom resultado neurológico permaneceu
significativamente menor nos pacientes que utilizaram epinefrina (30% vs 61%,
p<0,001). Esta associação se manteve
a despeito das intervenções intra-hospitalares realizadas além de ter
encontrado uma relação dose-efeito.
O atraso na administração da
epinefrina foi associado com piores desfechos, independente do tempo de início
das manobras do ACLS e da duração das mesmas. Entretanto, naqueles pacientes
nos quais a medicação foi administrada precocemente os desfechos não foram tão
ruins quando comparados aos que não fizeram uso.
Os estudos disponíveis na
literatura sobre o tema, em sua grande maioria; assim como o presente estudo,
foram de caráter observacional e, por mais que se usem artifícios metodológicos
para se tentar controlar os fatores de confundimento próprios deste tipo de
desenho, algum confundimento irá permanecer. Por exemplo, estudo analisado, os
pacientes que receberam epinefrina tinham características prognósticas menos
favoráveis daqueles que não a receberam (mais idosos, ritmo inicial não
chocável, PCR de maior duração, etc) além de que 25% dos pacientes não fizeram
uso e não existe informação que nos ajude a saber o porquê. Ou seja, a
diferença encontrada talvez possa ser atribuída ao simples fato dos pacientes
que receberam a medicação pertencerem a um grupo de maior gravidade clínica e
não ao efeito da medicação. Nesse cenário parece que o uso da epinefrina possa
ser um marcador substituto de gravidade ao invés de um fator preditivo
independente.
Entretanto esses estudos são
importantes geradores de hipóteses e de questionamentos acerca de condutas que
realizamos todos os dias, mas não costumamos questionar sua real aplicabilidade.
Estamos realizando uma terapêutica efetiva ou apenas uma terapia fútil que pode
inclusive ter efeitos deletérios sobre o prognóstico do paciente?
Esses achados vêm em meio a um
cenário de crescentes evidências as quais questionam o uso de vasopressores no
extra-hospitalar, a despeito das atuais diretrizes ainda recomendarem seu uso.
Contudo, antes de excluirmos definitivamente uma terapêutica de uma situação
clínica na qual o arsenal disponível já é bastante limitado, precisamos de
estudos intervencionistas com metodologia robusta para avaliar o verdadeiro
papel de tais medicações na PCR.
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