Apixaban: desenhando estudos positivos
Fibrilação
atrial (FA) é uma arritmia comum com incidência crescente em todo o mundo. Um
dos pilares do tratamento é a anticoagulação que tradicionalmente era feita com
Marevan. A medidas que os anticoagulantes diretos (DOACs) eram desenvolvidos
alguns estudos naturalmente tentaram demonstrar sua efetividade em diferentes
perfis de pacientes. Um desses estudos famosos foi o “Apixaban in Patients withatrial fibrilation” publicado em 2011 no NEJM.
O mesmo
comparou uso de Apixaban 5mg 12/12h vs. AAS 81 a 324mg em pacientes com “contraindicação”
à anticoagulação com marevan. E nesse ponto começamos a primeira crítica ao
desenho do artigo. Per si, a terapia
com marevan não é essencialmente diferente de apixaban. Ambos anticoagulam,
porém utilizam vias diferentes. A diferença maior entre eles é a logística da
monitorização da anticoagulação que é necessária apenas no marevan. Então cabe ressaltar
que o perfil de pacientes não era aquele que não “podiam anticoagular” e sim
aqueles que o médico assistente não queria anticoagular COM marevan. A segunda
crítica forte ao estudo se refere ao desenho. Foi comparado anticoagulação vs
não anticoagulação para desfechos embólicos. É óbvio que anticoagular será
melhor. Em relação a sangramentos (que foi o desfecho de segurança), temos a
impressão o grupo controle recebeu AAS apenas para aumentar um pouco a
incidência de sangramento e não parecer que apixaban sangra muito mais que o
controle. É um estudo com desenho muito capicioso, no qual já podemos prever os
resultados.
Nos amostra
chamou atenção que eram pacientes com risco intermediário de fenômenos
embólicos (CHADS2 com média de 2) e que em sua maioria possuíam como motivos
para não uso de marevan: 1- dificuldade de medidas frequentes de RNI, 2-
Paciente não querer tomar marevan, 3- CHADS2 de 1 sendo opção de não usar
marevan pelo médico assistente e 4- não conseguir faixa terapêutica. Está mais
que claro que os 4 principais motivos não são contraindicação ao uso do marevan
como o artigo inicialmente sugere.
Em relação ao
desfecho primário (AVC e embolia sistêmica), houve clara superioridade do grupo
apixaban com redução relativa do risco de 55%. Já prevíamos uma diferença
importante na medida em que AAS tem pouco (ou nenhum) efeito para evitar AVC
por mecanismo embólico. Em relação ao desfecho de segurança, sangramentos, os
resultados foram muito semelhantes.
Em uma análise
geral, o objetivo do trabalho foi trazer uma espécie de segurança ao clínico
que antes preferiria não anticoagular uma paciente com marevan no contexto de
FA. Nesse cenário, o apixaban aproveita para sem mostrar como opção terapêutica
nesse pool de mercado composto por 30% de todos pacientes com FA. Essa
conclusão é uma meia verdade. E como toda meia verdade é também uma meia
mentira.
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