É seguro reduzir a duração da terapia de dupla antiagregação em pacientes idosos submetidos a ICP com stent farmacológico?
A
população mundial está envelhecendo e a expectativa de vida aumentando. O envelhecimento
parece estar atrelado ao aumento de fatores de risco para doença arterial
coronariana e ter associação com lesões arteriais mais complexas. Em contra- partida, a medicina também segue em
crescimento exponencial, com novas descobertas e tecnologia de ponta para
tratamento da doença aterosclerótica coronariana. Stents cada vez mais
eficazes, com polímeros absorvíveis e hastes com menor espessura, que reduzem
reestenose e necessidade de revascularização da lesão alvo, parece acompanhar
esse desenvolvimento e são lançados no mercado. Entretanto, quando o assunto é
o seguimento dos pacientes que são submetidos a angioplastia e necessitam manter
dupla antiagregação por um período mais prolongado, os guidelines em vigência
não são unânimes nesse manejo, considerando um maior risco de sangramento entre
os pacientes idosos e sendo esta uma população que se beneficiariam do uso de
stents farmacológicos.
Tentando
preencher essa lacuna, eis que foi publicado no The Lancet em novembro de 2017,
o estudo SENIOR - Drug-eluting stents in elderly patients with coronary artery
disease : a randomised single-blind trial. Trata-se de um estudo randomizado, de
superioridade, multicêntrico, único cego, que envolveu 1200 pacientes maiores
de 75 anos, de 44 centros distribuídos em 9 países. Os pacientes eram
randomizados para receber stent liberador de everolimus com polímero
biodegradável ou stent metálico, após já ter sido estabelecida a duração da
terapia de DAPT de acordo com a apresentação da entrada ( estável X instável).
O objetivo era comparar resultados do desfecho
primário composto por morte por todas as causas, infarto, AVC e revascularização
do vaso alvo, entre os pacientes submetidos a ICP e mantidos com uma curta
terapia de DAPT – 01 mês para apresentação estável ( angina estável e isquemia
silenciosa) e 06 meses para apresentação instável ( angina instável , IAMSSST e
IAMCSST). Os desfechos secundários
incluíram complicações hemorrágicas, trombose de stent comprovada ou provável e
todas as revascularizações (revascularização do vaso alvo, revascularização do
vaso não-alvo e revascularização da lesão alvo).
O desfecho primário ocorreu em 68 (12%) pacientes no
grupo Stent farmacológico e 98 (16%) no grupo stent metálico (risco relativo
[RR] 0 · 71 [IC 95% 0 · 52-0 · 94]; p = 0 · 02). Complicações hemorrágicas (26 [5%]
no grupo DES vs 29 [5%] no grupo BMS, RR 0 · 90 [0 · 51-1 · 54]; p = 0 · 68) e
trombose do stent (três [1 %] vs oito [1%]; RR 0 · 38 [0 · 00-1 · 48], p = 0 ·
13) ao final de 1 ano de seguimento, foram
infreqüentes em ambos os grupos.
Apesar do resultado animador e compatível com estudos prévios,
essa redução no desfecho composto, se deu as custas de nova revascularização...
Ora, o estudo era cego -único ( apenas o paciente foi cegado), e a trombose de stent poderia ser presumida de
acordo com a apresentação clínica, o que não nos dá a segurança que o médico (
este sabia o tipo de stent que o paciente estava em uso) não ficaria
sugestionado a revascularizar os pacientes em uso de stent metálico ao mínimo
sinal de angina. Sendo assim, esses resultados não nos autoriza a mudança da
prática clínica e dos guidelines em imediato e reforçam a necessidade de mais
estudos sobre o tema.
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