O poder das bolhas


         Em meio ao fenômeno mundial das Fakes News, eis que surge um interessante artigo na conceituada revista Plos One, escrito por um grupo de pesquisadores brasileiros sobre o tema mais badalado do ano: Ozonioterapia.

         Em maio deste ano, esta prática foi incluida juntamente com mais nove outros tratamentos ao rol de modalidades terapêuticas disponibilizadas pelo SUS, sendo nomeados como práticas integrativas e complementares. No entanto, faltavam evidências robustas provando que o uso do ozônio traria reais benefícios. Neste contexto, o trial "Comparison between intra-articular ozone and placebo in the treatment of knee osteoarthritis: A randomized, double-blinded, placebo-controlled study" concluiu a eficácia do ozônio no que concerne alívio da dor, melhora funcional e qualidade de vida em pacientes com osteoartrite do joelho.

        A ideia foi até boa, mas infelizmente, logo no inicio da metodologia percebemos que o mesmo, não conseguiu desenvolver de forma consistente a rigorosidade metodológica necessária para confirmar seus achados. Foi um estudo cego, mas nem tanto, já que facilmente, pelo odor do gás, o pesquisador conseguia descobrir qual elemento estava aplicando no seu paciente: ozônio ou placebo; O poder estatístico para os seus 02 desfechos primários era de meros 80%; Tamanho amostral pequeno de apenas 96 doentes, com relação de 1,75 pacientes no grupo experimental para cada paciente do grupo placebo, com mais da metade da amostra no grupo do tratamento, ocorrendo perda da eficiência estatística. A maioria das falhas parecem anedóticas, mas foram genuínas e os erros foram primários.

        Depois de apenas 8 semanas de tratamento, ozônio foi dito como mais efetivo que o placebo no quesito redução de dor e melhora funcional e de qualidade de vida, utilizando as seguintes escalas: Escala Visual Analógica, na escala de dor Geriátrica Índice de Lequerne, WOMAC, teste TUG e SF-36 Health Survey Instrument. No entanto, a despeito disso, podemos relatar como mais uma falha a não padronização do tratamento medicamentoso entre os indivíduos, não podendo, portanto referir que a melhora relata foi realmente do uso do ozônio.

        Diante de tantas falhas na parte principal do trabalho, os resultados não podem ser encarados como positivos para o uso do ozônio aliviando dor e melhorando funcionalidade. Difícil acreditar que estudos bem feitos, no futuro, possam mostrar efeitos benéficos da ozonioterapia, já que do ponto de vista de plausibilidade, a relação deste gás com melhora clínica parece bem distante, não passando do mesmo efeito encontrado em banheiras de hidromassagem para alívio do estresse.

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