ESTUDO DE COORTE CANADENSE DE DISSECÇÃO DE ARTÉRIA CORONÁRIA ESPONTÂNEA: RESULTADOS INTRA-HOSPITALARES EM 30 DIAS.
A dissecção espontânea da artéria coronária (DEAC) é uma condição pouco compreendida que frequentemente afeta mulheres jovens sem fatores de risco cardiovascular e pode causar infarto do miocárdio, parada cardíaca ou morte. É definida como uma separação espontânea, não traumática, não-iatrogênica e não aterosclerótica da parede arterial coronáriana por hemorragia intramural, que pode ser desencadeada por ruptura da íntima ou hemorragia espontânea. Isso cria uma falsa luz com hematoma intramural que comprime o lúmen verdadeiro causando isquemia miocárdica ou infarto.
O relato anterior de DEAC é raro, entretanto, foi subdiagnosticado e a verdadeira prevalência é desconhecida. As publicações são limitadas principalmente a relatos de casos e séries não prospectivas, com ausência de dados de ensaios randomizados. Não satisfeito com isto, essa coorte objetivou descrever a história natural da DEAC e fornecer a justificativa e a base para futuros ensaios clínicos randomizados.
Em janeiro de 2019 o European Heart Journal publicou esse estudo multicêntrico, prospectivo e observacional que incluiu 750 pacientes com quadro agudo de DEAC não aterosclerótica atendidos em 22 centros dos Estados Unidos e Canadá no período de junho de 2014 a junho de 2018, com acompanhamento completo em 1 mês. Foram excluídos pacientes com doença aterosclerótica em outros segmentos arteriais coronarianas com diâmetro de estenose maior que 50%.
O padrão ouro para o diagnóstico da DEAC é a arteriografia coronariana e esta foi realizada em todos os participantes incluídos no estudo. Em casos ambíguos como a dissecção do Tipo 3 que mimetiza uma aterosclerose, a imagem intra-coronariana pode ser útil para confirmar o diagnóstico. A maioria das DEAC diagnosticadas envolveu um único território da artéria coronária (86,9%) e a artéria mais comumente dissecada foi a descendente anterior e seus ramos (52,1%).
A idade média dos pacientes foi de 51,8 anos (variação de 24 a 89 anos) e a maioria era do sexo feminino (88,5%), refletindo um grupo de mulheres jovens e de meia-idade em risco para essa condição. Portanto, a DEAC deve estar no diagnóstico diferencial de todas as mulheres que apresentam infarto do miocárdio.
Estresse precipitante foi comumente relatado (66,4%), incluindo estresse emocional e/ou físico, porém, 50% dos casos foram considerados idiopáticas. O principal sintoma apresentado foi dor torácica (91,5%).
O desfecho primário incluiu o composto de mortalidade por todas as causas (eventos adversos intra-hospitalares e maiores de 30 dias), AVC/AIT, re-infarto, choque cardiogênico, Insuficiência cardíaca e revascularização na planejada. Para apresentação intra-hospitalar, 29,7% apresentaram IAM com elevação do segmento ST e 69,9% IAM sem elevação do segmento ST. Os níveis de troponina foram elevados em 97,6% dos casos.
Peri-parto e doença do tecido conjuntivo foram preditores independentes de eventos adversos cardiovascular maior de 30 dias, destacando a necessidade de vigilância clínica nessas coortes.
O manejo conservador era tipicamente recomendado se não houvesse dor torácica, isquemia em andamento, instabilidade hemodinâmica, arritmias ventriculares ou dissecção de coronária esquerda (tronco).
A grande maioria dos pacientes (93,7%) recebeu alta em uso de aspirina, 67,4% em uso de Clopidogrel e 84,8% usando betabloqueador. A sobrevivência para alta foi excelente com apenas uma morte hospitalar e o restante sobreviveu a 30 dias. No entanto, complicações cardiovasculares significativas acumularam nos primeiros 30 dias pós-DEAC, incluindo IAM recorrente, revascularização não planejada, acidente vascular cerebral e visitas recorrentes à sala de emergência.
Assim como os autores, esperamos que esta coorte sirva de base para futuros estudos com acompanhamento a longo prazo desse perfil de pacientes e outras investigações sobre fisiopatologia, riscos e preditores de recorrência.
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