Aneurisma de Coronária Causando Infarto do Miocárdio


Paciente masculino, 43 anos, hipertenso com diagnóstico recente e sem outros fatores de risco para DAC, foi admitido dia 18/04 em Unidade de Emergência do HSR com quadro de dor torácica posterior e irradiação para região retroesternal de duração aproximada de 40 minutos. Inicialmente interpretado pelo paciente como sintoma dispéptico ou empachamento pós-alimentar, mas como a dor persistiu com moderada intensidade (5/10) e associou-se a diaforese, procurou ambulatório médico da empresa, onde foi feito aspirina (200 mg) e nitrato sublingual, com melhora dos sintomas após este último. ECG traçado no ambulatório médico com ritmo sinusal, FC aproximada de 60 bpm, SAQRS normal, ARV inferior e supradesnivelamento de ST com concavidade para cima compatível com alteração precoce de repolarização em parede antero-lateral e lateral. Troponina após admissão na emergência (após 8 h de início da dor) de 0,1, com MB massa pouco elevada. Foi internado em UCI para investigação. Vale ressaltar que o paciente tem um pai falecido aos 35 anos de Morte Súbita por uma patologia congênita (sic).
Timi Risk: 1 / Grace: 89, todavia houve curva de marcadores compatível com IAM (Tn 0,4 e CKMB massa > 10). ECG com V7/V8 e V3R/V4R apenas com alteração de repolarização nestas últimas derivações. ECO TT normal. Após segunda dosagem de MNM foi feito ataque de 300 mg de clopidogrel e programado CATE, além de manutenção de aspirina e HBPM dose plena já em uso pelo paciente.
Solicitado CATE e, para nossa surpresa, o paciente não possuía aterosclerose em TCE, ACD e ACx, porém havia uma imagem em Artéria Descendente Anterior (transição de terço médio e distal) sugerindo uma malformação vascular, com retenção de contraste e, após esta imagem, oclusão de DA distal (fluxo TIMI I) com quantidade significativa de trombos. Vale ressaltar que é uma ADA que contorna a ponta e emite um pequeno ramo ascendente posterior (tipo IV). A imagem não tinha bordos definidos, parecia uma perfuração de coronária... Pensado em fístula coronária-cavitária ou aneurisma parcialmente trombosado, mantido com clexane pleno, aspirina e clopidogrel e solicitado Angio CT de coronárias.
Feito o exame hoje (20/04) pelo Dr. Victor e constatado que se trata de um significativo aneurisma sacular parcialmente trombosado de dimensões consideráveis (12 x 7 mm).


E agora? Qual conduta a ser tomada? Gostaria de ler suas sugestões, mas de antemão eu listo três para discutirmos a melhor conduta:
- É uma oclusão de DA distal com um ECO inicial que não demonstrou nem alteração segmentar. Nada a fazer além de pesquisar causas adquiridas de aneurisma?
 - É um paciente com uma malformação vascular ou uma doença adquirida (arterite de grandes vasos sistêmica - Kawasaki? Takayasu?), cujo pai morreu cedo de MS. Houve formação de trombo. Apesar de distal, quem garante que o processo de trombose não possa progredir proximalmente? Baseados neste raciocínio, manteríamos com AAS e cumarínico? Dupla inibição? Dupla inibição e cumarínico (Crusade baixo)?  Vale ressaltar que o Cálcio Score é Zero.
 - Por fim, lanço uma conduta de hemodinamicista: heparinização plena por 5-7 dias. Novo CATE. Caso a imagem não tenho trombosado totalmente e houvesse recanalização da DA distal, haveria indicação de Stent recoberto com PTFE ou pericárdio bovino para ocluir o aneurisma e evitar novos eventos embólicos para ADA?

                                                                                                           
                                                                                                           Caso escrito por Mateus Viana

Comentários

  1. Paciente encontra-se assintomático, sem doença aterosclerótica associada. Penso que a melhor opção seria buscar realmente causa secundária para o aneurisma(marfan, Ehlers-Danrlos, vasculites como kawasaki, poliarterite nodosa, behçet, sífilis...) antes de rotulá-lo como congênito e seguimento clínico com aas e cumarínico.
    O tema é controverso e achei caso semelhante ao do paciente neste relato de caso:
    Rev Port Cardiol. 2011 Jan;30(1):65-72.
    Left main coronary artery aneurysm.

    Left main coronary aneurysm is extremely uncommon and its precise pathogenesis remains poorly understood. They are associated with serious complications and treatment is still the subject of disagreement. The authors present the case of a 42-year-old man admitted for a coronary syndrome, whose coronary angiogram revealed a large left main coronary aneurysm. The echocardiogram and multi-row detector CT angiography confirmed the abnormalities observed. No positive findings resulted from etiological evaluation. We decided to maintain the patient under oral anticoagulation and he remains clinically stable after two years of follow-up.

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  2. Acrescentaria a isto uma avaliação com o pessoal da genetica pois parece haver uma historia familiar não esclarecida. Quem sabe nao se trata de alguma patologia rara com potencial hereditario?

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  3. Estudo ótimo, com questões muito boas. Aguardo a resolução.

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