ESTUDO PREDIMED - Primary Prevention of Cardiovascular Disease With a Mediterranean Diet

         Ensaio Clínico multicêntrico, randomizado, aberto e truncado. Avaliado 7447 pacientes com alto risco cardiovascular, porém sem doença cardiovascular conhecida, comparando três grupos alimentares: Dieta Mediterrânea suplementada com Oléo de Oliva, Dieta Mediterrânea suplementada com nozes e amêndoas e um grupo controle com restrição de gordura. Desfecho primário avaliado foi composição de IAM, AVC e Morte por causas cardiovasculares e como desfechos secundários IAM isolado, AVC isolado, morte por causas cardiovasculares e outras causas. O presente estudo deveria ter um seguimento de 7 anos para apresentar  um poder estátisco de 80% em detectar uma redução do risco relativo para os eventos em 20%, no entanto, tal trabalho foi encerrado com seguimento mediano de 4,8 anos. Foi observado eventos em 288 pacientes com redução do risco relativo de 30% e 28% a favor do s grupos Dieta Mediterrânea com uso de Óleo de Oliva (96 eventos) e Dieta Mediterrânea com uso de Nozes (83 eventos) respectivamente em comparação ao grupo controle (109 eventos). O ensaio conclui que uso de dieta Mediterrânea reduz incidência de eventos cardiovasculares maiores.
        Trata-se de um ensaio clínico único com n amostral robusto no qual avalia o impacto de dieta na redução de desfechos cardiovasculares maiores. Apesar de ser um estudo bem desenhado com tempo de seguimento proposto longo, alguns vieses ficam evidentes o que pode tornar a conclusão do trabalho questionável. A primeira delas é o seguimento diferenciado aplicado ao grupo intervenção (dieta) com visitas e aplicação de questionários trimestrais ao passo que o seguimento oferecido ao grupo controle era anual (viés de performace). Outro ponto questionável é a presença de mais de 70% da população dos três grupos com LDL colesterol elevado( > 160mg/dl) no qual apenas 40% utilizavam estatinas; o que nos faz pensar  sobre o real impacto de tal intervenção sobre uma população bem tratada em uso de terapêutica standard como as estatinas. Terceira questão  a ser avaliada diz respeito ao desfecho primário, no qual apesar do impacto na redução de 30% em desfecho composto de IAM, AVC e morte por causa cardiovascular, quando analisados separadamente tal redução de risco se deveu ao impacto apenas no desfecho AVC sem diferença estatística quando analisados IAM e morte entre os grupos intervenção e controle;  este achado no s faz questionar o porquê do benefício em AVC, sem prevenção concomitante de DAC, já que guardam fisiopatologia e fatores de risco em comum - será que houve um fator confundidor não avaliado? ( melhor controle pressórico no grupo dieta mediterrâneo? – viés de performace). Por último e não menos importante é o fato do estudo ter sido truncado, ou seja, apesar de ter sido proposto seguimento dos pacientes por 7 anos, o trabalho encerrou-se com mediana de 4,8 anos com a justificativa que o benefício no grupo intervenção era tão evidente que não era ético continuar não ofertando tal benefício ao grupo controle; encerrando-se tal seguimento antes do tempo calculado para demonstrar o real benefício da intervenção, permite-se a dúvida de que há realmente um benefício ou apenas houve um erro tipo I ( demonstrou um beneficio que não existe - ao acaso), hipótese esta que pode ser confirmada avaliando-se as curvas de eventos para o desfecho primário que já se afastam desde o início da observação (Tempo Zero).  Dessa maneira estimular a adoção de uma dieta, que para os padrões nacionais torna-se extremamente onerosa, sem a devida certeza do verdadeiro beneficio na redução de risco cardiovascular é no mínimo questionável.

Comentários

  1. Infelizmente é a melhor evidência que temos em estudos randomizados. Entretanto, existem evidências encontradas indiretamente com estudos como o INTERHEART mostrando que a ingestão de frutas e vegetais foram preditores negativos de eventos coronários.

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  2. Excelente avaliação Patrick, gostei.

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