A New Risk Scheme to Predict Ischemic Stroke and Other Thromboembolism in Atrial Fibrillation:
The ATRIA Study Stroke Risk Score
Sempre que alguma novidade surge,
há o risco de ser vista com certo ceticismo e desconfiança enquanto outras são
vistas como verdadeiros milagres, mesmo que ainda como promessas futuras. A
história da medicina é cheia desses exemplos. Algumas com enredo dramático,
como a revolta das vacinas, onde a falta de informações e a violência das
autoridades combinada com a ignorância da população favoreceu o fracasso de uma
excelente campanha sanitarista e por pouco não terminou em um golpe militar. No
oposto, temos a terapia com células tronco, cujos resultados, ainda que
incipientes e longe de se tornarem rotina na prática médica, alimentam o sonho
de milhares de pessoas para as quais a medicina moderna ainda não tem tratamento.
Entre os extremos temos aquelas
novidades que passam despercebidas pela maioria da população, mas que colocam
em questão muito das verdades do dia a dia do nosso consultório e nas quais
embasamos nossas condutas. Assim fez o ATRIA, com sua proposta de um novo
escore de risco para acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI) e
tromboembolismos (TE) em pacientes portadores de fibrilação atrial (FA) não
valvar, justificando que essa arritmia comum está associada a um aumento do
risco de AVCI e que os já conhecidos CHADS2 e CHAD2S2-Vasc possuem moderada
capacidade para prever a ocorrência desses eventos, repercutindo na tomada de
decisão antitrombótica.
Para tanto, esse estudo,
inicialmente com uma coorte observacional que contou com 10.927 pacientes com
FA não valvar selecionadas do banco de dados de um convênio, gerando um N de
32.609 pessoas-anos e resultando em 658 eventos, dos quais 643 eram AVCI, foi
dividida em uma coorte derivação com 2/3 desses pacientes, da qual foram
extraídos as variáveis empregadas no escore e uma coorte validação com o 1/3
restante. Uma segunda coorte observacional denominada de ATRIA Cardiovascular
Research Network (CVRN) composta de 26.263 pessoas-ano e com 496 eventos
replicou a primeira coorte, validando externamente o escore ATRIA.
A novidade desse novo escore fica
por conta da inclusão de duas novas variáveis em relação ao CHADS2 e
CHAD2S2-VAsc: proteinúria ou baixa taxa de filtração glomerular cujo ponte de
corte foi 45 ml/minuto e doença renal em fase tardia com necessidade de
diálise. Ele também reclassifica as faixas etárias em < 65 anos, 65 a 74
anos, 75 a 84 anos e > 85 anos, atribuindo pontos conforme a idade e
que são modificados se há história de AVCI prévio, pois se observou uma
interação entre essas duas variáveis que levaram ao aumento no número de
eventos isquêmicos em pacientes com eventos tromboembólicos prévios.
Os resultados do ATRIA são
descritos como superiores aos dos outros dois escores envolvidos no estudo. Com
base na população estudada, o ATRIA mostrou-se capaz de classificar pacientes
como de baixo risco e alto risco de uma forma mais homogênea, restando poucos
pacientes na faixa de moderado risco, onde as tomadas de decisões são mais difíceis.
Em relação ao CHADS2, temos uma reclassificação de pacientes de baixo a
moderado risco para alto risco, enquanto que em relação ao CHADsS2-Vasc, os
pacientes foram reclassificados de alto para moderado e baixo risco. Vale
ressaltar que isso é feito com diferentes pontos de corte entre os escores, ou
seja, o ATRIA classifica como baixo risco < 1%, moderado de 1 a 2% e alto risco > 2% de
eventos, enquanto que os outros dois escores tem pontos de corte diferentes.
Talvezseja difícil aceitar que um paciente hipertenso, diabético e com
insuficiência cardíacaconsiderado de alto risco pelo CHAD2S2-Vasc, antes saindo
do nosso consultório com uma receita de varfarina em mãos, agora não seja
anticoagulado pois é baixo riscono ATRIA. Mas, a superioridade do ATRIA sobre
seus concorrentes é confirmada pela estatística-c, justificando sua tomada de
decisão, uma vez que a diferença na ocorrência dos eventos totais entre os dois
métodosfoi de 0,04, o que é considerado satisfatório na
comparação de dois escores. Quebra de paradigmas nunca foi fácil.
Interessante esse estudo, e gostei bastante de sua avaliação.
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