WARFARIN, ASPIRIN, OR BOTH AFTER MYOCARDIAL INFARCTION
Historicamente, em meados de
2002, a dupla antiagregação plaquetária com AAS e Clopidogrel tinha cheiro de
novidade e ainda não estava consolidada na prevenção secundária para ocorrência
de eventos trombóticos em pacientes pós-infarto agudo do miocárdio (IAM).
Lembramos que o CURE foi publicado em 2001. Sabendo que pacientes após IAM
apresentam um risco de 15 a 20% de ocorrência de um novo evento coronariano e
de morte, eram utilizadas terapias antitrombóticas com agentes anticoagulantes
ou antiplaquetários orais na prevenção secundária com intuito de reduzir a
ocorrência de desfechos duros como reinfarto, morte e acidente vascular cerebral. Entretanto, conhecimentos
sobre a utilização dessas terapias de forma isolada ou combinada, nesse
contexto, eram limitados. Estudos prévios já haviam comparado a Warfarina com o
AAS após o IAM, não demonstrando diferenças estatísticas significativas na taxa
de morte e reinfarto. Também foram publicados estudos comparando o uso isolado
de Warfarina com Warfarina em baixa dose associada ao AAS, não demonstrando
benefícios de uma terapia sobre a outra, embora exista a critica de que a Razão
Normalizada Internacional (IRN) utilizada nesses estudos estivessem abaixo da
faixa terapêutica.
Em virtude da inconsistência dos
resultados encontrados nesses estudos, o WARIS
II propôs realizar um comparativo entre a utilização da Warfarina versus
AAS versus Warfarina associada ao AAS
como terapia antitrombótica de longo prazo, avaliando sua eficácia e
segurança na prevenção secundária pós IAM. Nesse estudo randomizado,
multicêntrico,com seguimento médio de 4 anos, foram selecionados e distribuídos
aleatoriamente 3630 pacientes pós IAM, antes da alta hospitalar, em 03
grupos: 1216 receberam Warfarina
preconizando um INR entre 2,8 a 4,2; 1206 receberam aspirina (160 mg por dia) e
1208 foram tratados com aspirina (75 mg por dia) combinada com Warfarina numa
dose destina a atingir um INR entre 2,0 a 2.5. Foram considerados elegíveis
pacientes de ambos os sexos, com idade inferior a 75 anos de idade,
hospitalizados por IAM. Foram excluídos aqueles com qualquer contra indicação para
uso das drogas do estudo, portadores de doença maligna ou com potencial baixa
adesão ao tratamento. O desfecho principal foi um composto de morte, reinfarto
não fatal, ou acidente vascular cerebral tromboembólico.
O desfecho principal ocorreu em
241 dos 1206 doentes que receberam AAS (20%); 203 de 1216 do grupo Warfarina
(16,7%) e 181, de 1208 do grupo Warfarina e AAS (15%), não ocorrendo diferença estatística
significativa no numero de eventos entre os dois grupos que receberam
Warfarina. O INR médio foi de 2,8 em pacientes que receberam warfarina isolada
e de 2,2 em pacientes tratados com a
terapia combinada. Em uma avaliação transversal do valores do INR observou-se
que no grupo Warfarina, 34% dos valores de INR estavam abaixo de 2,8, e 4% eram
acima de 4,2. No grupo da terapia combinada, 23%dos valores ficaram abaixo de
2,0 e 30% acima de 2,5. Foram registrados 69 grandes episódios de sangramento maior
não-fatais: 8 no grupo aspirina (0,17%) 33 no grupo Warfarina (0,68%) e 28 no
grupo da terapia combinada (0,57%) alcançando diferença estatística
significativa. Ao final do estudo foi observada uma superioridade da Warfarina em
combinação com aspirina
(redução de risco relativo de 29%), bem como da Warfarina isolada (redução de
risco relativo em 19%) quando comparada com a aspirina na redução do composto
final.O principal benefício da Warfarina mais aspirina e warfarina
isolada foi à prevenção do reinfarto não fatal e do acidente vascular cerebral
tromboembólico, não repercutindo sobre a mortalidade. Em contrapartida, houve
um maior risco de sangramento nos grupos em que foi utilizada a Warfarina.
Conduzido de forma adequada, o
WARIS II demonstrou benefícios do uso Warfarina isolada ou em combinação com o
AAS em relação ao AAS isolado, sem incorrer em erros metodológicos que pudessem
colocar em xeque seus resultados. Entretanto, esse estudo passou despercebido,
talvez ofuscado pela incipiente dupla antiagregação plaquetária com AAS e
Clopidogrel demonstrados pelo CURE, capaz de reduzir significativamente o risco
do desfecho composto de óbito decorrente de causas vasculares, reinfarto do
miocárdio não fatal, ou acidente vascular cerebral em pacientes com IAM sem
supra-desnivelamento do segmento ST, seja pela sua praticidade de uso, uma vez
que dispensa a medida rotineira do IRN ou pelo forte lobby da indústria
farmacêutica.
Estudo interessante...
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