Série DAC – Estudo CURE
Série DAC - Estudo Cure
A trombose, causada por uma
ruptura ou erosão da placa aterosclerótica, é o principal mecanismo das
síndromes coronarianas agudas. Ao longo dos anos, muitas terapias foram
estudadas com o intuito de reduzir a morbimortalidade dos pacientes vítimas
dessa condição. Entretanto, apesar dos avanços com algumas terapias (aspirina,
heparina, inibidor IIB/IIIA) os pacientes ainda experimentavam um risco
considerável tanto a curto quanto em longo prazo. Com o advento dos Stents,
mostrou-se que aspirina quando associada a uma nova classe de antiagregantes
para a época (Tienopiridínicos) reduzia o risco de IAM em curto prazo. Contudo,
não se conhecia o benefício dessa terapêutica em longo prazo.
Publicado em 2001 no NEJM, o
estudo CURE teve como objetivo comparar a eficácia e segurança da adição do
clopidogrel à aspirina em pacientes vítimas de SCA sem supra de ST.
Foi um estudo randomizado,
placebo controlado, duplo-cego, multicêntrico, analisado pelo princípio de
intenção de tratar que randomizou, dentro de 24 horas do evento, para uso de
aspirina/placebo ou aspirina/clopidogrel. Inicialmente, os pesquisadores
incluíram apenas pacientes acima de 60 anos, sem alterações ao ECG e com
passado de DAC. Entretanto, após uma acertada revisão, passou-se a incluir pacientes
com alterações ao ECG (que não supra ST) ou de MNM, selecionando assim uma
amostra de maior gravidade. Foram excluídos do estudo pacientes que tinham
contraindicação a terapêutica antitrombótica/plaquetária; alto risco de vir a
desenvolver IC grave ou sangramento; uso crônico de ACO; revascularização miocárdica
nos últimos 3 meses ou uso de GPIIB/IIIA nos últimos 3 dias.
Como desfecho primário o estudo
teve um composto de mortes cardiovasculares, IAM não fatal e AVC. O desfecho
coprimário foi um composto do desfecho primário ou isquemia refratária. O desfecho
de segurança foi complicações hemorrárgicas, em que o autor subdividiu em
complicações ameaçadoras à vida, maiores e menores. Os pacientes foram
acompanhados logo na alta hospitalar, após um mês/três meses da alta e
posteriormente a cada três meses até o fim do estudo.
A amostra inicial foi recalculada
devido a uma ocorrência menor de desfechos no grupo controle do que o previsto
pelos autores, somando-se 12.500 pacientes o que deu ao estudo um poder de 90%
para detectar uma redução de risco de 16,9% e 16,4% nos desfechos primário e
coprimário respectivamente. Foi feita análise de subgrupo e análise interina,
porém o estudo não foi truncado.
Nos pacientes que fizeram uso da
DAPT, houve uma redução de 20% e 14% nos desfechos primário e coprimário,
respectivamente com um NNT considerado bom a razoável (47,6 e 43,5
respectivamente) se considerarmos a magnitude dos desfechos analisados.
Interessante notar, que já nos primeiros trinta dias, podemos ver um benefício
da DAPT nesse grupo de pacientes (RRR 21%) o qual permanece ao longo do
primeiro ano (RRR 18%). A análise de subgrupo, apesar de toda limitação
metodológica que a mesma traz, reforça esse benefício, à medida que em todos os
subgrupos o uso da DAPT foi benéfico, sendo que o subgrupo que realizou
previamente revascularização miocárdica apresentou o maior benefício.
Em relação ao desfecho de
segurança, pacientes que fizeram uso de DAPT tiveram mais complicações hemorrágicas
(NNH 28,6), porém à custa de sangramentos menores - NNH 37 (sangramentos
maiores NNH 100 e os ameaçadores à vida não houve diferença).
Podemos concluir que a DAPT, na
época feita apenas com aspirina e clopidogrel/Ticlopidina, reduziu os eventos
isquêmicos a curto e longo prazo – um ano - com um NNT bom a razoável, à custa
de um aumento do número de eventos hemorrágicos menores em sua maioria. Atualmente,
com o advento e expansão dos stents farmacológicos torna-se praticamente
obrigatório, salvo exceções, o uso dessa terapêutica, visando à redução da
trombose de stent ao menos no primeiro ano do evento. Recentemente tivemos
outro estudo também publicado no NEJM (PEGASUS TIMI-58) que avaliou a
manutenção da DAPT (no caso o Ticagrelor) por mais de um ano, entretanto houve
apenas um pequeno benefício, mitigado pelo aumento do risco de eventos
hemorrágicos (NNT e NNH próximos e superponíveis) o que não invalida essa
abordagem, porém não nos autoriza a utilizar em todos os nossos pacientes. Cabe a nós médicos, à luz das evidências
científicas e de nossa experiência, indicarmos a melhor estratégia para nosso
doente.
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