Série DAC: O estudo GUSTO IIB.

A CLINICAL TRIAL COMPARING PRIMARY CORONARY ANGIOPLASTY WITH TISSUE PLASMINOGEN ACTIVATOR FOR ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION.




N Engl J Med 1997; 336:1621-1628June 5, 1997DOI: 10.1056/NEJM199706053362301


Quando pensamos em Infarto com elevação do segmento ST, fazemos um link quase que imediato com cateterismo/angioplastia. Contudo, não nos preocupamos em checar de onde surgiu essa conduta no mundo da medicina baseada em evidência.

Em 1997 foi publicado na The New England Journal of Medicine um estudo chamado GUSTO IIB. Este estudo teve como objetivo comparar angioplastia coronariana versus trombólise no infarto com supra do segmento ST, tendo como desfecho primário morte, reinfarto não fatal e acidente vascular cerebral não fatal com sequela em período de 30 dias.

Quando lemos o título desse artigo nos tempos atuais pensamos: “Claro que angioplastia é superior a trombólise!”  Será?

Foi um estudo aberto, multicêntrico, randomizado, com N de 1138 pacientes, em sua maioria composto por pacientes em killip I. 

Em relação ao desfecho, morte, reinfarto e sequela de AVC, estes apresentaram odds ratio respectivamente de 0,8(0,49-1,30), 0,67(0,4-1,12) e 0,2(0,02-1,73), demostrando intervalo de confiança amplo e sempre cortando o 1, traduzindo não significância estatística.
Quando é feita análise combinada dos desfechos, observa-se uma significância estatística, porém  muito discreta quase tocando o eixo da nulidade com odds ratio de 0,67 (0,47-0,99), com um NNT de 25 (que seria um bom NNT), mas com intervalo de confiança que poderia ser tão bom quanto 13 a tão ruim quanto 250. 

Sobre complicações entre trombólise e angioplastia temos dados interessantes. Em relação a sangramento, observamos que a angioplastia possui mais eventos que a trombólise 40,3% X 34,2% respectivamente, se tratando de hemorragia intracraniana, 0% na angioplastia e 1,4% no grupo trombólise. Em relação ao recorrência de isquemia, a angioplastia teve uma menor incidência de eventos. 

Claro que a angioplastia tem seu lugar de destaque, lembrando que a cateterismo cardíaco é um exame que deve ser realizado em todos os pacientes tratados com trombolíticos. Podemos ressaltar ainda que outras vantagens advém do cateterismo além da própria angioplastia, como visualização direta da anatomia coronária, definição de terapia de longo prazo, e porque não, diagnóstico diferencial. 

Esse artigo nos traz uma grande lição, pois nem sempre o que é tão óbvio possui muita superioridade na medicina baseada em evidência, esse é um exemplo clássico. 

A angioplastia demostrou superioridade sobre a trombólise, porém modesta e sem diferença significante de complicações neste trabalho. 

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