Estudo SAVE NEJM 2016:
www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1606599
A síndrome da apneia obstrutiva
do sono (SAHOS) é uma condição comum entre os pacientes com doença
cardiovascular, afetando entre 40 e 60% desses pacientes. Os diferentes graus de hipoxemia e ativação
simpática gerada pela mesma contribuem para um aumento da pressão arterial e
disfunção endotelial, levando a um aumento do estresse oxidativo, inflamação e
hipercoagulação, em modelos teóricos. Além disso, a alta pressão intratorácica
negativa aumenta o estresse mecânico no coração e nos grandes vasos.
Algumas
coortes populacionais mostraram associação entre SAHOS e eventos
cardiovasculares, em especial AVC e, alguns estudos mostraram benefício do uso
do CPAP nesses pacientes, com redução da PA em indivíduos hipertensos
resistentes, melhora da disfunção endotelial, aumento da sensibilidade à
insulina, redução de complicações cardiovasculares e morte, em especial a
cardiovascular. Parece ser o CPAP uma alternativa muito útil nesse perfil de
pacientes, não é mesmo? Nesse contexto, o estudo Sleep
Apnea Cardiovascular Endpoints (SAVE) procura avaliar a efetividade do CPAP
em reduzir a taxa de eventos cardiovasculares nos pacientes com apneia
obstrutiva do sono.
O estudo SAVE foi um estudo internacional, multicêntrico, randomizado,
grupo paralelo, aberto com avaliação cegada do desfecho. Teve como critérios de
inclusão: idade entre 45 e 75 anos; diagnóstico de DAC ou doença
cerebrovascular e diagnóstico de SAHOS moderada a grave. Os critérios de
exclusão foram: sonolência diurna grave (Epworth Sleepiness Scale > 15) ou
risco aumentado de acidente ao adormecer; hipoxemia grave (SpO2 < 80% por
mais de 10% do tempo de registro); padrão respiratório de Cheyne-Stokes.
Houve uma fase de run in no estudo, na qual teve como objetivo
selecionar participantes que fossem aderentes à terapêutica do CPAP. Por uma
semana fizeram uso do CPAP nasal a uma pressão subterapêutica e, os pacientes
que conseguiram utilizar o dispositivo por pelo menos 3 horas/noite por uma
semana foram selecionados para compor a amostra.
Os pacientes foram randomizados para receber CPAP com máscara
nasal e tratamento padrão vs tratamento padrão apenas. Durante o estudo eram
encorajados a hábitos de sono mais saudáveis e mudanças no estilo de vida para
minimizar SAHOS. O tratamento dos fatores de risco cardiovasculares era baseado
nas diretrizes de cada país.
O desfecho primário foi um composto de: morte de causa
cardiovascular; infarto agudo do miocárdio (IAM), incluindo infarto silencioso;
hospitalização por insuficiência cardíaca (IC) e acidente isquêmico transitório
(AIT). Os desfechos secundários foram: (1) componentes individuais do desfecho
primário; outros eventos cardiovasculares compostos; procedimentos de
revascularização; fibrilação atrial de início recente; DM de início recente; morte
por qualquer causa e (2) sintomas de SAHOS; qualidade de vida e humor.
Inicialmente foi objetivada uma amostra de 5000 indivíduos, porém
após revisão da meta-regressão do risco cardíaco, a análise interina ter
mostrado uma taxa de eventos e aderência ao tratamento maior que a esperada, os
autores recalcularam que 2500 pacientes seriam necessários para conferir ao
estudo 90% de poder estatístico para detectar uma redução de 25% na incidência
do desfecho primário, admitindo-se 533 eventos em 4,5 anos de seguimento.
Em relação ao desfecho primário não houve diferença entre o grupo que utilizou CPAP (17%) em relação ao grupo que não o utilizou (15,4%) RR 1,1 (0,91-1,32) com p 0,34. Quando analisados os desfechos secundários relacionados à morte ou desfechos cerebrovasculares também não houve diferença estatisticamente significativa. Em relação aos desfechos substitutos como sonolência diurna analisada pela Escala de Epworth; ansiedade e depressão avaliada pela Escala Hospitalar de Depressão e Ansiedade e qualidade de vida avaliada pelas escalas SF-36 e EQ-D5 houve melhora nos pacientes submetidos ao CPAP quando comparados aos indivíduos que não fizeram uso. Além disso, pacientes que fizeram uso do CPAP tiveram uma taxa menor de absenteísmo.
Em relação ao desfecho primário não houve diferença entre o grupo que utilizou CPAP (17%) em relação ao grupo que não o utilizou (15,4%) RR 1,1 (0,91-1,32) com p 0,34. Quando analisados os desfechos secundários relacionados à morte ou desfechos cerebrovasculares também não houve diferença estatisticamente significativa. Em relação aos desfechos substitutos como sonolência diurna analisada pela Escala de Epworth; ansiedade e depressão avaliada pela Escala Hospitalar de Depressão e Ansiedade e qualidade de vida avaliada pelas escalas SF-36 e EQ-D5 houve melhora nos pacientes submetidos ao CPAP quando comparados aos indivíduos que não fizeram uso. Além disso, pacientes que fizeram uso do CPAP tiveram uma taxa menor de absenteísmo.
Apesar de o CPAP ser um recurso muito útil no tratamento da SAHOS,
tendo apresentado; no presente estudo, melhora em desfechos substitutos como
humor, sonolência diurna e qualidade de vida, o estudo SAVE não demonstrou
benefício do mesmo na redução de desfechos cardiovasculares. Talvez, ao invés
dos pesquisadores utilizarem desfechos
tão amplos, tivessem escolhido desfechos mais realistas, como redução de angina
ou internamento por IC descompensada, o estudo pudesse ter provado o conceito
nesse tipo de situações. Às vezes, levados pela empolgação, tentamos tirar de um método, seja ele diagnóstico ou terapêutico, mais do que ele pode nos oferecer.
A falta de uma boa noite de sono, traz diversos fatores que fazem mal para saúde, e desencadeiam doenças. É por isso que sempre há alertas, dormir é algo essencial para nossa saúde.
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