NORSTENT trial: Contra fatos não há argumentos






"Stents metálicos (BMS) estenosam mais. Stents farmcológicos (DES) trombosam mais". A já conhecida disputa por espaço no campo da cardiologia intervencionista, pendente para o lado dos stents eluidos, ganhou em ago/2016 mais um embate equilibrado, dessa vez travada nos centros de hemodinâmica da Noruega. O objetivo era rediscutir um dado já bem conhecido na literatura médica: há diferença de morte/IAM entre pacientes tratados com stents farmacológicos e metálicos?
         O cenário para responder esse eco científico foi o território norueguês e todos os seus incríveis 8 centros de hemodinâmica, que cobrem uma população pouco superior a 5 milhões de habitantes. Foram incluídos pacientes que fizeram CATE por DAC estável ou SCA com lesões obstrutivas e que não tivessem stents prévios - pouco mais de 9000.
             O desenho do trial teve a falha de ser aberto - clínicos, hemodinamicistas e pacientes estavam cientes da terapia que seria empregada a partir da randomização (essa sim cegada). Todos os paciente deveriam receber DAPT por 9 meses (DAC estável ou instável), seguido de AAS indefinidamente. Tal característica do protocolo confere igualdade aos tratamentos, ficando a diferença encontrada atribuível exclusivamente à natureza do stent. A quantidade de stents seria irrestrita e a cargo do hemodinamicista, encorajando-se sempre o uso dos de tipo para o qual o paciente fora alocado.
         O objetivo primário mostra que a proposta do trial é ser contundente no incremento de benefício quanto a desfechos clínicos importantes - IAM e morte por qualquer causa. Necessidade de revascularização (único benefício até hoje atribuído ao DES sobre o BMS), foi avaliado em desfecho secundário, juntamente com qualidade de vida após o procedimento e mais outros 5 desfechos.
       Dos 9013 noruegueses incluídos de set/2008 a fev/2011, 75% eram homens, 35% eram fumantes, 12% eram diabéticos, 40% eram hipertensos e 54% eram dislipidêmicos. Sobre o procedimento índice, 83% foram realizados por via radial, 50% tinham lesões radiologicamente complexas (tipos B2 ou C), a média de stents por paciente foi 1,7 e a extensão da malha intracoronária foi de 28 mm no grupo de farmacológicos e 27 mm no de metálicos.
             Como esperado, não foi demonstrada significância estatística nas taxas de mortalidade e IAM entre os grupos (16,6% no grupo DES contra 17,1% no grupo BMS). Foi observada uma redução de 50% na necessidade de revascularização da lesão alvo no grupo do DES (5,3% de eventos comparado com 10,3% no grupo BMS) com um NNT de 20 (16 - 22), mas se observa uma redução de apenas 24% na necessidade de qualquer reintervenção (16,5% no grupo DES contra 19,8% no grupo BMS), o que denota que metade dessas reabordagens não se deve a uma falha da ICP inicial mas sim de lesões novas.
           Ao se olhar apenas para os dados do grupo do DES, apenas 1/3 das novas ICP foram de lesões-alvo tratadas anteriormente, reforçando que houve necessidade de reintervenção não por conta de falha do tratamento inicial e sim por novas lesões. O mesmo fenômeno acontece de forma mais equilibrada no grupo de BMS, com a taxa de angioplastias por lesões não abordadas anteriormente sendo de cerca de 50%, algo não tão distante do observado no DES.
              A análise de qualidade de vida por meio de Seattle Angina Questionnaire mostrou algo ainda mais apaziguador: não houve diferenças nas limitações físicas, estabilidade da angina, frequência de angina ou satisfação com o tratamento.
         Concluindo, colocar um stent metálico não só não prejudica a vida dos pacientes, como também é mais barato e permite maior flexibilidade na DAPT, a qual pode precisar ser abreviada por intercorrências médicas ao longo da vida. Uma mensagem há muito transmitida, e agora reforçada por mais um bom ensaio clínico.

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