Série Insuficiência Cardíaca - Estudo SCD-HeFT
Morte súbita por evento arrítmico é uma das principais
causas de morbimortalidade nos pacientes portadores de IC em todo mundo. Desde
as primeiras descrições da desfibrilação externa em 1960 e o primeiro CDI em
1980, o paradigma para prevenção da morte súbita cardíaca deslocou-se para
drogas antiarrítmicas e CDI. Entretanto, até o momento do presente estudo tais
terapias não tinham evidências suficientes para sua ampla recomendação.
O SCD-HeFT foi um
grande estudo randomizado, placebo-controlado, duplo-cego (no grupo droga) de prevenção primária de morte súbita cardíaca.
Com uma combinação de etiologia de IC isquêmica (52%) e não isquêmica (48%),
2.521 pacientes com uma fração de ejeção < 35% foram randomizados para
terapia convencional (placebo), amiodarona ou terapia com CDI. Os três grupos
apresentaram características demográficas semelhantes. Além disso, houve um
grande uso da terapêutica da IC entre os grupos que não se reduziu no Follow
up.
Comparado ao placebo, a terapia com CDI reduziu todas as
causas de mortalidade de 29% para 22% em 45 meses (NNT 14). Análises de subgrupo
pré-especificadas foram realizadas, utilizando-se a etiologia da IC e classe de
NYHA. Nenhum dos subgrupos de etiologia de IC (isquêmica vs não isquêmica) alcançou
o nível de significância estatística para amiodarona ou CDI, porém no segundo apresentou
uma tendência (p 0,05 e 0,06, respectivamente).
Quando avaliada a
classe funcional, o CDI não mostrou benefício para a CF III ao passo que a
Amiodarona apresentou um interessante aumento do RR de 44%. Já no subgrupo com CF II, o grupo do CDI obteve um
RR de 0,54 enquanto que o grupo da Amiodarona não apresentou benefício. Esses
achados nos fazem pensar na superestimação da magnitude do efeito do CDI. Enquanto
que em pacientes com CF II houve o benefício, em pacientes de CF III,
teoricamente um grupo com maior disfunção, alterações neuro-humorais e, por
conseguinte, maiores eventos arrítmicos, a prevenção desses poderia reduzir a
morbimortalidade desse grupo de pacientes. Entretanto, o que pode estar
acontecendo é uma mudança do mecanismo de morte. Pacientes graves que antes
morreriam por eventos arrítmicos, ao se implantar o CDI e reduzir a mortalidade
de tais eventos passariam a morrer por falência de bomba. Tal fenômeno já foi
descrito em dois estudos: Patch trial e o mais recente DINAMITE.
Quanto a Amiodarona, nem na análise primária nem nas
análises de subgrupo se mostrou benéfica para redução de morte súbita, sendo
inclusive deletéria no subgrupo com CF NYHA III. Cabe salientar que houve uma
descontinuação de 32% do uso da amiodarona o que não invalida o estudo, já que
o mesmo foi analisado com base no princípio de intenção de tratar. Entretanto,
quando acontece uma perda dessa magnitude, nesse tipo de análise, há um
favorecimento da hipótese nula, tornando a comprovação de uma hipótese alternativa
mais difícil o que talvez possa ter ocorrido.
Concluindo, no presente estudo o CDI reduziu a mortalidade
por todas as causas enquanto que a amiodarona não mostrou benefício. Entretanto,
devemos individualizar nossa decisão baseado nas evidências disponíveis,
tomando a melhor decisão para nosso paciente.
Insuficiência cardíaca é algo muito sério! Devemos sempre consultar um especialista, para fazermos um check-up.
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